domingo, 21 de janeiro de 2018

Árvores e aves


Árvores e aves

Nenhuma copa sem as aves,
Vejo isso ante aurora,
Quando cantam prevendo o sol.
Vai-se escuro, bem suave
E nas barras rubro-róseas
Há lampejos do arrebol.

Os orvalhos estão nas rosas,
As matas têm respingos alvos,
A figueira tem rocio.
Mas aves lindas e formosas
Nos encantam com regalo
De seus pios e assobios.

Que festa fazem para a luz
Meigas aves cantadoras,
Afinadas, têm orquestra.
João-de-barro nos seduz
Com canção galanteadora:
Um casal se manifesta.

Passa na via o lavrador,
De longe escuta o bem-te-vi,
Cantando à verde cumeeira.
É altivo bom cantor,
Pela flor o colibri
Faz brilhar a capoeira.

Tudo dá-nos alegria
Neste fim de madrugada,
Matraqueiam araquãs.
Dos ramos vêm-nos melodias,
De saíras emanadas,
Que riqueza tem manhã.

Na luz nascente vibra a vida,
É quando as aves pela mata
Vão obrando o seu cantar.
São alegres, destemidas:
Tanta verve aí desatam
Que me vejo as imitar.

Lá bem longe borocoxós
Se agitam aos faxinais,
Mal chegamos a seu lar.
Que charmosos, dizemos nós
Maritacas no sassafrás
A cantar buscam seu manjar.

Ocultos dentro das ramagens
Ou nas telhas refugiados
Fazem coro os canarinhos.
Os pinheiros, as pastagens
Já bem antes do sol nado
Ouvem os meigos passarinhos.

Parece tudo arranjado,
Aves esperando a vez
De entrar com sua partitura.
Mesmo sem terem ensaiado,
Apresentam fluidez,
Para a nossa gostosura.

Mas, nas copas verdejantes,
Cujos ramos têm rebrilhos
De orvalhos matinais,
Aves são estimulantes.
Vou criando estribilho,
Pra compor os madrigais.

Sem as plantas que vazio
Pelo espaço natural
Não há os pios da passarada.
Sem as aves, não há pios.
Haja pios ao matagal,

E festival à madrugada.