segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Pinheiro companheiro

Junto à casa, meu pinheiro,

Companheiro do abelhal,

Voltas sempre ao pensamento.

És tão reto e altaneiro,

Era o teu habitual,

Pra ti meu canto e sentimento.

 

Ramada tua, das mãos distante.

Nutria-nos com bons pinhões,

Era um cone para o céu.

Com porte alto-elegante

Prendes nossas atenções,

Jogando grimpas para o léu.

 

Que jogo ledo a gente via

No romper da luz solar

Clareando teu perfil.

Para nossa face ria

A luz em festa jubilar.

Por tua grimpa é mais gentil.

 

Mas no quadro gracioso

Ria toda a nossa infância,

Ria eu e meus irmãos.

D’abelhas grupo sonoroso

Produzia mel na estância,

Tu, a pinha e seu pinhão.

 

Por minha vez produzo rima,

Que saltita em minha mente

Como as gralhas a dançar.

Meu pinheiro, se bem me exprima,

Dás à musa d’ambiente,

Bons motivos pra cantar.

 

De fato em meio  às tuas grimpas

Com cuidado recolhias

A poeira das estrelas.

E nessa copa verde e limpa

Te cantava a cotovia,

E zuniam as abelhas.

 

De teus galhos observavas

Nossos passos para o rio

Trazendo água para casa.

As abelhas trabalhavam

Com afã e vozerio

E recebias canto e asa.

 

Tens um porte de nobreza

Nessa busca pelo sol,

Nos teus braços acolhedores.

E contemplando esbeltezas

Que irradias em grande rol

Temos voz de trovadores.

 

Pois descendo ao ribeirão,

Eu te vejo, meu pinheiro,

Junto à tenda do abelhal.

Dá-me pinha e pinhão,

Aurora e aves nos rameiros,

Em troca dou-te madrigal.

 

Sei que troca é desigual,

Pelos dotes excelentes

Que exibias na estância.

Mas, a modo do abelhal,

Vou colhendo os componentes

Pra lembrar-te na distância.

 

Entre vários componentes

Lembro grimpas e gravetos

Teus tombados pelo chão.

A mãe bondosa e diligente

Pedia-nos juntá-los secos

Para o fogo do fogão.

 

E com fogo incandescente

A gente punha teus pinhões

Na chapa para os assar.

E dali da chapa quente

Sob estalos e rojões

Eles vinham ao paladar.

 

Usando vestes flaneladas,

Nós crianças encolhidas

Ao fogo tínhamos as mãos.

Lá fora, em matinal geada

Tinhas ramas embranquecidas,

E eu te embalo na canção.

 

Conosco foste fraternal

Até num ato louvador

De teu verde resplendente.

Ao celebrarmos o Natal

De Deus Menino Salvador

Dás-Lhe ramas de presente.

 

Onde em grimpas sol nascia

E aves tinham seu cantar

Ali te vejo, meu pinheiro

Em ti penduro as tropelias

Deste meu peregrinar,

Ó saudoso companheiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário